O paradoxo da Taxa Selic e a Economia Real
Recentemente o Bacen publicou sobre a manutenção da taxa de juros básica da economia (Selic) em 13,75% ao ano. https://www.bcb.gov.br/controleinflacao/taxaselic .
Mas o que representa essa taxa? Em tese, essa taxa serve na teoria econômica para controlar a inflação, pois uma política monetária contracionista diminuiria a oferta de moeda em circulação na economia, controlaria a demanda agregada e o aumento de preços, estimulando investimentos. Também sugiro uma breve leitura sobre inflação neste link. https://rvjeconomics.com/2021/10/17/inflacao-conceito-e-como-se-proteger/
E afinal qual o impacto dessa informação no dia dia? A questão envolve todos e entender sobre o assunto é fundamental para a compreensão de como anda a economia do país no contexto atual. E você, sente essa informação relevante? Pois é, vamos direto ao ponto. Na prática, a taxa Selic está atrelada à remuneração dos títulos públicos federais, em um nível alto pressupõe a maior preferência por investimentos e poupança.
Na realidade brasileira, o impacto da manutenção dessa política acaba não passando de mera teoria, uma vez que o custo médio de captação de recursos do mercado está na casa de 10,9% ao mês, colocando aí 2% (empréstimos consignados) no mínimo a 15% ao mês (taxa de cartões de crédito e demais empréstimos de outras instituições financeiras). Qual a lógica matemática das instituições financeiras estabelecerem 15% ao mês do tomador de recursos enquanto que para o investidor a taxa básica de juros da economia é de 13,75% ao ano?
A isso chama-se de “spread” bancário, termo inglês que significa diferença entre o que o banco te remunera e o juros que te cobra por emprestar o dinheiro.

Entende o porquê do paradoxo agora?
Vamos aos fatos: o que explicaria o alto grau de endividamento da população brasileira hoje estar em aproximadamente 70%? Elevadas taxas de captação de recursos no ‘livre mercado’ refletem nos preços, que também se elevam, resultando em menos liquidez e maior inflação, uma economia com péssimos fundamentos.
Para entendermos de uma maneira mais técnica, usaremos o modelo da macroeconomia conhecido como IS-LM para explicar qual o fundamento lógico de manter a taxa nesse nível.

De acordo com o modelo, IS (Investments & Savings) e LM (Liquidity & Monetary), sendo Y representado pelo produto e i (taxa de juros). O ponto de intersecção entre as duas linhas é o ponto de equilíbrio entre oferta e demanda, onde igualam-se as taxas de juros e produto total na economia.
Conhecido as variáveis, entendemos que a um aumento na taxa de juros pressupõe maior propensão a investimento e poupança, consequentemente menor produto e liquidez (circulação da moeda). Por outro lado, uma redução na taxa de juros implicaria em menos investimentos e mais liquidez, provocando uma aumento na inflação.
Por fim, parece que a solução para este problema está longe de ser a taxa de remuneração dos títulos públicos (Selic), e sim no custo de captação da moeda, o que vem provocando um maior grau de endividamento da população, impedindo o fortalecimento dos investimentos e encarecendo o produto final.
#economia #mercadofinanceiro #taxaselic #investimentos #inflacao